11 novembro 2018 - Seul le prononcé fait foi

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discurso do Presidente da República Emmanuel Macron durante as comemorações do centenário do Armistício

Paris – Domingo, 11 de novembro de 2018

O PRESIDENTE: Em 7 de novembro de 1918, quando o corneteiro Pierre Sellier tocou o primeiro cessar-fogo, por volta das 10 horas da manhã, muitos homens não permaneceram incrédulos e foram aos poucos deixando suas posições, enquanto o mesmo toque era reproduzido ao longe, nas linhas de batalha, bem como as notas do toque de silêncio, antes que os sinos espalhassem a notícia por todo o país.

Em 11 de novembro de 1918, às 11 horas da manhã, há exatamente 100 anos, as cornetas e os sinos das igrejas soavam em Paris e em toda a França.

O armistício havia sido assinado.

Terminavam-se assim 4 longos e terríveis anos de combates mortais. No entanto o armistício não significou a paz, pois a leste, muitas guerras continuaram sendo feitas durante anos.

Aqui, neste mesmo dia, os franceses e seus aliados celebraram sua vitória. Eles lutaram por sua pátria e pela liberdade. O que lhes custou inúmeros sofrimentos e sacrifícios. Eles viveram um inferno indescritível.

Imaginemos, nesse instante, esse cortejo de combatentes com soldados da metrópole e do império, legionários, garibaldinos e estrangeiros do mundo todo, porque a França representava para eles tudo o que a havia de belo no mundo.

Ao lado de Peugeot, primeiro morto em combate, e Trébuchon, último combatente morto a serviço da França dez minutos antes do armistício, eis o professor Kléber Dupuy, defensor de Douaumont, Apollinaire, Blaise Cendras, no regimento de marcha da legião estrangeira, os soldados dos regimentos bascos, bretões ou marselheses, o capitão De Gaulle, que até então ninguém conhecia; Julien Green, o Americano, à porta de sua ambulância, Montherlant e Giono, Charles Peguy e Alain Founier mortos nas primeiras semanas, Joseph Kessel, de Orenbourg, na Rússia.

E todos os outros, os nossos, cujos nomes podemos ler em cada monumento, das alturas solares da Córsega aos vales dos Alpes, da Sologne aos Vosges, da ponta do Raz à fronteira espanhola. Sim, uma só França, rural e urbana, burguesa, aristocrata e popular, de todas as cores, onde o pároco e o ativista anticlerical sofreram lado a lado e cujo heroísmo e dor nos fizeram quem somos.

Durante esses quatro anos, a Europa quase cometeu suicídio. A humanidade mergulhou em um labirinto hediondo de confrontos impiedosos; um inferno que engolia todos os combatentes, não importa o lado ao qual pertenciam ou sua nacionalidade.
Já no dia seguinte, no dia seguinte do armistício, começou a fúnebre contagem dos mortos, feridos, mutilados, desaparecidos. Na França e em todos os outros países, famílias esperavam em vão o retorno de um pai, de um filho, um marido, um noivo. Entre os ausentes estavam também as admiráveis mulheres que prestavam assistência aos combatentes.

10 milhões de mortos.

6 milhões de feridos e mutilados.

3 milhões de viúvas.

6 milhões de órfãos.

Milhões de vítimas civis.

Só no solo francês, 1 bilhão de projéteis de artilharia foram usados.

O mundo descobriu a dimensão das feridas que o ardor do combate havia ocultado. As lágrimas dos moribundos foram sucedidas pelas dos sobreviventes. Pois neste solo francês, o mundo inteiro veio lutar. Jovens de todas as províncias e regiões ultramarinas, jovens originários da África, do Pacífico, das Américas e da Ásia vieram morrer longe se suas famílias em pequenas cidades cujo nome eles nem sequer sabiam.

Milhões de testemunhas de todas as nações descreveram o horror dos combates, o odor fétido das trincheiras, a desolação dos campos de batalha, os gritos dos feridos à noite, a destruição de regiões interioranas prósperas das quais restou apenas a silhueta calcinada das árvores. Muitos dos que voltaram haviam perdido sua juventude, suas ideias, seu gosto pela vida. Muitos foram desfigurados, cegos ou amputados. Vencedores e vencidos ficaram por muito tempo imersos no mesmo luto.

1918, foi há cem anos. Isso parece distante. No entanto, foi ontem!

Eu andei pelas terras da França nas quais foram travados os combates mais difíceis. Eu vi nesses lugares a terra ainda cinza e estéril dos campos de batalha! Eu vi pequenas cidades que foram destruídas a ponto de não haver mais habitantes para reconstruí-las, e que são hoje, pedra sobre pedra, apenas resquícios da insanidade dos homens!

Eu vi nos nossos monumentos a lista infindável de nomes franceses ao lado dos nomes dos estrangeiros mortos sob o sol da França; eu vi os corpos dos nossos soldados sepultados em uma natureza que havia se tornado novamente inocente, assim como vi fossas onde se encontravam misturados, e lado a lado, ossos de soldados alemães e franceses, que, durante um inverno glacial, haviam lutado até a morte entre si por alguns metros de terra…

Os traços deixados por essa guerra nunca se apagaram, seja nas terras francesas, seja nas da Europa ou do Oriente Médio, ou na memória de homens em todo o mundo.
Lembremo-nos! Não nos esqueçamos! Pois a lembrança desses sacrifícios nos exorta a sermos dignos daqueles que morreram por nós para que pudéssemos viver livres!

Lembremo-nos: não coloquemos em questão o que havia de pureza, de ideal, de princípios superiores no patriotismo dos nossos antepassados. Essa visão da França como nação generosa, da França como projeto, da França portadora de valores universais, foi, nessas horas sombrias, justamente o oposto do egoísmo de um povo que se preocupa apenas com seus interesses. Pois o patriotismo é o exato oposto do nacionalismo: o nacionalismo é a traição do patriotismo. Quando dizemos « nossos interesses primeiro e pouco importam os outros ! », nós apagamos o que uma nação tem de mais precioso, o que a faz viver, o que a torna grande, o que tem de mais importante: seus valores morais.

Lembremo-nos, nós franceses, do que Clémenceau proclamou no dia da vitória há exatamente 100 anos, do alto da tribuna da Assembleia Nacional, antes que fosse cantado em coro, a todo som, a Marselhesa: combatente do direito, combatente da liberdade, a França será para todo o sempre o soldado em defesa do ideal.

São esses valores e essas virtudes que guiaram as pessoas que homenageamos aqui hoje; as pessoas que se sacrificaram em combates aos quais a nação e a democracia os haviam levado. São esses valores, essa virtudes, que fizeram sua força porque elas guiavam seu coração.

A lição que devemos tirar da Grande Guerra não pode ser a do rancor de um povo contra outro, nem a do esquecimento do passado. Trata-se de um legado que nos obriga a pensar no futuro e no essencial.

Já em 1918, nossos antecessores se lançaram na busca pela construção da paz, eles imaginaram as primeiras cooperações internacionais, desmantelaram os impérios, reconheceram diversas nações e redesenharam as fronteiras; eles até mesmo sonharam com uma Europa política.

Mas a humilhação, o espírito de revanche, a crise econômica e moral levaram a uma escalada dos nacionalismos e totalitarismos. Assim, 20 anos depois, a guerra veio destruir esse projeto de paz.

Aqui, hoje, povos do mundo inteiro, sobre esse solo sagrado, túmulo do Soldado Desconhecido, este « Poilu » anônimo símbolo de todos os que dão sua vida pela pátria, vejam quantos dos seus líderes estão reunidos!

Cada um deles representa, um após o outro, uma longa lista de combatentes e de mártires de seu povo. Cada um deles é o semblante dessa esperança pela qual toda uma juventude aceitou morrer; de um mundo enfim entregue à paz, de um mundo no qual a amizade entre os povos prevalece sobre paixões guerreiras, de um mundo onde a palavra dos homens deve falar mais alto do que o fragor das armas, onde o espírito de conciliação prevalece sobre a tentação do cinismo, onde instâncias e fóruns permitem aos inimigos de outrora dialogar e usá-los como base sólida para a construção do entendimento, a garantia de uma harmonia enfim possível.

Isso se chama, no nosso continente, amizade; uma amizade forjada entre a Alemanha e a França e essa vontade de construir uma base comum de anseios. Isso se chama União Europeia, uma união livremente consentida, nunca vista na História, e que nos livra de guerras civis. Isso se chama Organização das Nações Unidas, a qual mantém sempre vivo o espírito de cooperação em prol da defesa dos bens comuns de um mundo cujo destino está inexoravelmente ligado e tirou suas lições dos fracassos dolorosos da Sociedade das Nações e do Tratado de Versalhes.

Enquanto existirem homens e mulheres de boa fé, o pior nunca terá vez. Sejamos incessantemente, sem nenhuma vergonha ou medo, esses homens e essas mulheres de boa fé!

Eu sei, antigos demônios estão ressurgindo, prontos para realizar sua obra de caos e morte. Novas ideologias manipulam religiões, pregam um obscurantismo contagioso. A História ameaça às vezes retomar seu caminho trágico e comprometer nosso legado de paz, que nós acreditávamos ter sido consolidado e selado pelo sangue dos nossos ancestrais.

Que esse centenário seja também a data em que renovamos a eterna fidelidade aos nossos mortos! Façamos mais uma vez o juramento das Nações de colocar a paz acima de tudo, pois nós conhecemos seu preço, seu peso e suas exigências!

Nós todos aqui, líderes políticos, nós devemos, neste dia 11 de novembro de 2018, reafirmar diante dos nossos povos nossa verdadeira, nossa imensa responsabilidade; a de transmitir aos nossos filhos o mundo com o qual sonhavam as gerações anteriores.
Somemos nossas esperanças em vez de colocar em confronto nossos medos! Juntos, nós podemos afastar essas ameaças que são o espectro do aquecimento global, a pobreza, a fome, as doenças, as desigualdades, a ignorância. Nós iniciamos esse combate e nós podemos vencê-lo: sejamos perseverantes, pois a vitória é possível!

Juntos, nós podemos romper com a atual « traição dos intelectuais » que está sendo formatada, que alimenta inverdades, aceita as injustiças que minam nossos povos, alimenta os extremismos e o obscurantismo contemporâneo.

Juntos, nós podemos fazer emergir e florescer as ciências, as artes, os intercâmbios, a educação e a medicina por todo o mundo, pois, se assim desejarmos, o nosso mundo pode estar no início de uma nova era, de uma civilização que preze para que os anseios e as faculdades do homem sejam os melhores possíveis.

Arruinar essa esperança por fascínio ao isolamento, à violência e à dominação seria um erro cuja responsabilidade histórica as futuras gerações nos fariam carregar, e com toda razão. Aqui, hoje, enfrentemos dignamente o julgamento do futuro!

A França sabe que ela deve muito aos seus combatentes e aos combatentes do mundo todo. Ela se inclina diante de sua grandeza.

A França saúda com respeito e muita sensibilidade os mortos das outras nações contra os quais, outrora, ela lutou. Ela se solidariza com suas perdas.

« Em vão nossos pés se levantam do solo que guarda os mortos » como escreveu Guillaume Apollinaire.

Que nos túmulos onde eles repousam floresça a certeza de que um mundo melhor é possível se nós o desejarmos, o escolhermos, o construirmos; se nós o exigirmos com todo o nosso ser.

Neste dia 11 de novembro de 2018, cem anos após um massacre cuja cicatriz é ainda visível na face do mundo, quero agradecer-lhes por mostrarem a união e a fraternidade do dia 11 de novembro de 1918.

Que essa união possa se estender para além do dia de hoje. Essa fraternidade, meus amigos, nos pede, de fato, para lutarmos juntos nessa única batalha que realmente tem valor: o combate pela paz, por um mundo melhor.

Viva a paz entre os povos e os Estados !

Viva as nações livres do mundo!

Viva à amizade entre os povos!

Viva a França!

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